segunda-feira, 3 de maio de 2010

Ferida

Lancelot, já são dois longos meses, não sei mais o que fazer da voracidade de te ter só meu, beijo essa boca que não sei de quem é e sento ao lado do telefone desejando que na sua cabeça essa seja a única linha que importe existir. Até quando? Leonardo faz tempo que chegou? Desculpe o atraso, parei rapidamente pra olhar vitrines, coisas maravilhosas vendem por aqui!- Não, agora. Bonita!Obrigada, será que ele fala no geral, ou só da minha roupa? O vestido comprei especialmente pra hoje, mas talvez seja eu. Você quer jantar agora?- Sim, acabo de sair do trabalho, muita fome. - Ele sorriu, aquele sorriso, que me desarmava, esqueci que estava um pouco brava por ele não ter me chamado pra sair e eu ter que tomar a iniciativa, quase sempre era isso. Ele ficava tão charmoso de verde, os olhos se acentuavam, a íris parecia pérola negra. Sentamos à mesa do restaurante, ele puxou a cadeira pra mim, antes eu disfarçadamente limpei a garganta. Ele pôs as mãos sobre a mesa, não as sobrepôs como a maioria de nós faz, deixou-as lado a lado, brancas e fortes, unhas bonitas, bem cortadas e rosadas, porem na mão esquerda havia uma ferida grande, como se percebesse meu olhar a encobriu com a direita. Léo, esse machucado tem mais de dois meses, você não ta cuidando dele direito? Ele riu, mas me mantive firme em obter resposta.- Sempre tiro a casquinha, não consigo evitar.Uma criança responderia a mesma coisa, que teimoso. Não era a primeira vez que ralhava com ele sobre a ferida. Pedimos à la carte, ele quis o de sempre, eu pedi um prato que tinha um nome que soava bem, o garçom leu pra mim, era francês, eu queria entender o idioma romântico, eu só entendia de erros românticos.Eu comi com tanto gosto que até esqueci do Leonardo, ele mal fez barulho, terminou antes de mim e continuou calado. Pedimos a conta e íamos para a minha casa eu e Lancelot, demos as mãos, nessas horas Lancelot e eu éramos um casal. Minha mão direita segurava a esquerda dele, eu sentia que nos prendíamos e que a mão dele devia estar suada, escorregava. Limpei o suor no meu vestido bege, acabou manchado de sangue. Olhei pro Leonardo chateada.- Eu compro outro.Exagerado. Eu lavo e sai. Por que foi tirar a casquinha da ferida?- Gosto de ver sangrar.Eu gosto de ver as coisas seguindo seu curso. Em casa faço um curativo.- A ferida é minha, não ouse.Ele fechou a cara, só podia ser piada, eu sorri, fomos pra casa, Lancelot e eu.